"Não me interessa nenhuma religião cujos princípios não melhoram nem tomam em consideração as condições dos animais." (Abraham Lincoln)



terça-feira, 10 de maio de 2011

Kyle

Um dia, quando eu era caloiro na escola, vi um miúdo da minha turma a

caminhar para casa depois da aula.
O nome dele era Kyle.

Parecia que estava a carregar os seus livros todos.

Eu pensei: -Porque é que leva para casa todos os livros numa sexta-feira?

Ele deve ser mesmo um marrão.

Como já tinha o meu fim-de-semana planeado (festas e um jogo de futebol com

os meus amigos no sábado a tarde) encolhi os ombros e segui o meu caminho.
Conforme ia caminhando, vi um grupo de miúdos a correr na direcção dele.

Eles atropelaram-no, arrancando-lhe todos os livros dos braços e

empurraram-no, de tal forma que ele caiu no chão.
Os seus óculos voaram, e eu vi-os aterrarem na relva a alguns metros donde

estava. Ele ergueu o rosto e eu viu uma terrível tristeza nos seus olhos.
O meu coração penalizou-se por ele.

Então, corri até ele enquanto ele

gatinhava à procura dos óculos, e pude ver lágrimas nos seus olhos.
Enquanto lhe entregava os óculos, eu disse:

-Aqueles tipos são uns parvos. Eles deviam era arranjar uma vida própria'.
Ele olhou para mim e disse:

-Ei, obrigado! Havia um grande sorriso na sua face.

Era um daqueles sorrisos que realmente

mostram gratidão. Eu ajudei-o a apanhar os livros, e perguntei-lhe onde

morava.
Por coincidência ele morava perto da minha casa, então eu perguntei como é

que nunca o tinha visto antes. Ele respondeu que antes frequentava uma

escola particular.
Conversámos todo o caminho de volta para casa, e carreguei-lhe os livros.

Ele revelou-se um miúdo muito porreiro. Perguntei-lhe se queria jogar

futebol no Sábado comigo e com os meus amigos, ele disse que sim.

Ficamos juntos todo o fim-de-semana e quanto mais eu conhecia Kyle, mais

gostava dele. E os meus amigos pensavam da mesma forma.
Chegou a Segunda-Feira, e lá estava o Kyle com aquela quantidade imensa de

livros outra vez. Parei-o e disse:

-Diabos, pá, vais fazer o quê com os livros de novo?

Ele simplesmente riu e entregou-me metade dos livros.
Nos quatro anos seguintes Kyle e eu tornámo-nos melhores amigos.

Quando nos estávamos a formar começámos a pensar na faculdade.

Kyle decidiu ir para Georgetown, e eu ia para a Duke.

Eu sabia que seríamos sempre amigos, que a distância nunca seria um

problema. Ele seria médico, e eu ia tentar uma bolsa escolar na equipa de

futebol.

Kyle era o orador oficial da nossa turma. Ele teve que preparar um discursode formatura.

Eu estava super contente por não ser eu a subir ao palanque e

discursar. No dia da Formatura eu vi Kyle. Ele estava óptimo. Ele estava mais

encorpado e realmente tinha uma boa aparência, mesmo usando óculos. Ele saía

com mais miúdas do que eu, e todas as raparigas o adoravam!
Às vezes eu até ficava com inveja. Hoje era um desses dias. Eu podia ver o

quanto ele estava nervoso por causa do discurso. Então dei-lhe uma

palmadinha nas costas e disse:
-Ei, rapaz, vais-te sair bem! Ele olhou para mim com aquele olhar (aquele olhar de gratidão) e sorriu.

-Valeu, disse ele. Quando ele subiu ao oratório, limpou a garganta e começou o discurso:

-A Formatura é uma época para agradecermos aqueles que nos ajudaram

durante estes anos duros. Aos pais, aos professores, aos irmãos, talvez até

a um treinador. Mas principalmente aos amigos.

Eu estou aqui para lhes dizer

que, ser um amigo para alguém é o melhor que se pode dar.
Eu vou-lhes contar uma história.

Eu olhei para o meu amigo sem conseguir acreditar enquanto ele contava a

história sobre o primeiro dia em que nos conhecemos.
Ele tinha planeado suicidar-se naquele fim-de-semana.

Contou a todos como tinha esvaziado o seu armário na escola, para que a mãe

não tivesse que fazer isso depois de ele morrer, e estava a levar as suas

coisas todas para casa. Ele olhou directamente no meus olhos e deu-me um

pequeno sorriso.
-Felizmente eu fui salvo. O meu amigo salvou-me de fazer algo inominável'.
Eu observava, com um nó na garganta, todos na plateia, enquanto aquele

rapaz popular e bonito contava a todos sobre aquele seu momento de fraqueza.

E vi a mãe e o pai dele a olharem para mim e a sorrir com aquela mesma

gratidão.
Até aquele momento eu nunca me tinha apercebido da profundidade do sorriso

que ele dirigiu naquele dia.



Nunca subestimes o poder das tuas acções. Com um pequeno gesto podes mudar a vida de uma pessoa. Para melhor ou para pior.


Deus coloca-nos a todos nas vidas uns dos outros para que tenhamos um

impacto um sobre o outro de alguma forma.

3 comentários :

  1. Escolho outra nuvem, bem mais branquinha só para te soprar: É lindo! Rápido, rápido surge logo EMPATIA com Kyle...
    Bisous, aos Anjos também se atribuem beijos... cuido eu

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  2. em primeiro lugar gostaria de te agradecer por me mostrares que uma simples ação pode mudar tudo...
    sempre achei que por mais que eu fize-se, nunca ninguém me ia agradecer. E começava a pensar em deixar de me preocupar tanto com elas... Mas mostraste-me que tudo vale a pena...
    tal como fernando pessoa disse:
    "tudo vale a pena se a alma não é pequena!"

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  3. Nossa Angel...me emocionei agora, que bobona chorona eu sou, mais me emocionei pelo fato de eu ter tido alguém assim na minha vida, ela foi uma amiga muito importante e assim como o amigo de Kyle o salvou, minha amiga também me salvou, pena que não pude fazer o mesmo por ela, a alguns anos ela se foi...sofri muito pela falta dela...mais sei que onde estiver ela sempre estará olhando por mim...linda historia e obrigada por sua visita!! Amei de verdade...beijos =D

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