"Não me interessa nenhuma religião cujos princípios não melhoram nem tomam em consideração as condições dos animais." (Abraham Lincoln)



terça-feira, 27 de abril de 2010

O fim último da vida não é a excelência!

"Não tenho filhos e tremo só de pensar.
Actualmente os exemplos que vejo em volta não aconselham temeridades.
Hordas de amigos constituem as respectivas proles e, apesar da benesse, não levam vidas descansadas.
Pelo contrário: estão invariavelmente mergulhados numa angústia e numa ansiedade de contornos particularmente patológicos.
Percebo porquê.
Há cem ou duzentos anos, a vida dependia do berço, da posição social e da fortuna familiar.
Hoje, não. A criança nasce, não numa família mas numa pista de atletismo, com as barreiras da praxe: jardim-escola aos três, natação aos quatro, escola aos seis, e um exército de professores e explicadores, como se a criança fosse um potro de competição.
Eis a ideologia criminosa que se instalou definitivamente nas sociedades modernas: a vida não é para ser vivida - mas construída com sucessos pessoais e profissionais, uns atrás dos outros, em progressão geométrica para o infinito. É preciso o emprego de sonho, a casa de sonho, o marido ou esposa de sonho, os amigos de sonho, as férias de sonho, os restaurantes de sonho.
Não admira que, até 2020, um terço da população mundial esteja "a mamar forte" no Prozac.
É a velha história da cenoura e do burro: quanto mais temos, mais queremos. Quanto mais queremos, mais desesperamos.A meritocracia gera uma insatisfação insaciável que acabará por arrasar o mais leve traço de humanidade. O que não deixa de ser uma lástima.Se as pessoas voltassem a ler os clássicos, sobretudo Montaigne, saberiam que o fim último da vida não é a excelência, mas sim a felicidade!"
João Pereira Coutinho, jornalista

1 comentário :

  1. Como sempre, cá estou eu a ler as últimas do autor do blogue. Mas um blogue, sendo pessoal, não é intransmissível e mais uma vez cá está outro texto aqui exposto pela mão do autor do blogue, neste caso, um texto do jornalista João Pereira Coutinho.
    E que verdade as suas palavras, palavras essas para olhos e ouvidos cegos como os nossos, que não querem compreender o quanto de veracidade elas têm. Costumo dizer que não gosto de ouvir uma pessoa dizer que, "lutou" para conseguir algo. Se o conseguiu a lutar, basicamente essa conquista não tem o mesmo sabor. Mas que sabor é esse? Vai ao encontro das palavras do jornalista; procuramos mais e mais, e ainda mais, para no fim termos e vermos que não chega. Quantas pessoas vivem com pouco e são felizes? Incrível, certo? Sem Internet, sem carro, sem nunca terem entrado num campo da bola para verem a sua equipe, uma vez que fosse etc etc etc...mas são felizes. São felizes porque a felicidade não tem tamanho nem qualidade, ao passo que o ter e querer tem muito de quantidade, logo essa chamada "felicidade" por parte de quem muito quer, fica sempre subjacente à quantidade e não qualidade. Para seres feliz não basta teres mas sim quereres...acreditar que és feliz, porque no fim o que te resta não é os bens materiais mas sim a tua felicidade contigo próprio.

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