"Não me interessa nenhuma religião cujos princípios não melhoram nem tomam em consideração as condições dos animais." (Abraham Lincoln)



terça-feira, 24 de novembro de 2009

Uma Lágrima e Um Sorriso de Khalil Gibran

"Deixai-me dormir. Minha alma está embriagada de amor.
Deixai-me descansar. Minha alma está saturada de dias e noites.
Acendei as velas e os incensórios em volta da minha cama, e espalhai sobre meu corpo pétalas de rosas e de jasmins; e perfumai meu cabelo com almíscar; e despejai essências odoríferas sobre meus pés. Depois, olhai e lede o que a mão da morte houver escrito sobre minha fronte.
Deixai-me mergulhado nos braços do sono. Minhas pálpebras estão cansadas da luz.
Tocai a lira e deixai as ondas de suas notas metálicas acariciar meu ouvido.
Soprai as flautas e os pífaros, e tecei com suas melodias um véu em volta de meu coração impaciente por parar.
Cantai canções suaves e estendei os pensamentos mágicos como um leito para minhas emoções; depois, procurai a luz da esperança nos meus olhos.
Secai vossas lágrimas, ó companheiros. E erguei vossas cabeças como as flores levantam seus cálices à chegada da aurora. E vede a deusa da morte em pé como uma coluna de luz entre meu leito e o espaço. Retei vossa respiração e escutai comigo o roçar de suas asa brancas...
Evaporou-se a música das ondas do mar, e no trigal apagou-se a melodia dos arroios, e silenciaram as vozes das aglomerações humanas.
Agora, ouço somente a canção da Imortalidade, que se harmoniza com as inclinações da alma...
Não perturbeis o repouso do éter com adjurações e rituais. Mas deixai vossos corações regozijarem-se comigo e glorificarem a sobrevivência e a eternidade.
Não useis luto por mim em sinal de tristeza, mas vesti o branco e alegrai-vos.
E não faleis com lamentos da minha partida, mas fechai os olhos e me vereis convosco agora, amanhã e sempre...
Envolvei-me em terra fina e, junto com cada punhado, depositai sementes de açucena, de rosas e de jasmins. e elas germinarão e absorverão os elementos do meu corpo, e ao crescer espalharão aos quatro ventos o perfume do meu coração, e levarão ao sol os segredos de minha alma e dançarão com a brisa, e vagarão no vento para reconfortar o caminheiro.
Deixai-me agora, ó filhos da minha mãe. Deixai-me só e caminhai com passos mudos, como caminha a quietude nos vales desertos.
Deixai-me com Deus e espalhai-vos, calmamente, como o sopro de abril espalha as flores das amendoeiras e das macieiras.
Voltai a vossas casas, e lá encontrareis o que a morte não pode levar nem de mim nem de vós.
Deixai este lugar. O que procurais já está longe, longe deste mundo..."

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