"Não me interessa nenhuma religião cujos princípios não melhoram nem tomam em consideração as condições dos animais." (Abraham Lincoln)



quarta-feira, 25 de março de 2009

Divisa Ma Sempre Uniti...


Pelos que nunca foram, e sonharam ser,
abro espaço no livro do querer,
bendito os que tentam e não desistem.
Ainda que não alcancem,
ainda que não seja o momento,
terão contentamento.

Pelas árvores que hoje se agigantam,
os meus olhos se encantam,
quero abraça-las como criança,
pois sua sombra, para mim é lembrança,
de dias de brincadeiras sem fim,
desse eterno menino, que se revela em mim.

Pela natureza que me encanta,
eu canto,
deixo de lado o que a maltrata, me encanto:
com o mar que se agiganta, e se acalma,
com as flores que se abrem, e perfumam,
com a terra que molhada, se torna fecunda,
e no ar da tarde, deixa seu perfume,
"cheiro de esperança molhada",
certeza do florescer das sementes,
é a vida em movimento,
é o renascer.

Por isso, quando perguntam, onde está Deus,
mostro a noite coberta de estrelas,
a lua formosa em seu eixo,
as pedras coloridas, os seixos,
a simplicidade do complexo mundo, vasto mundo...
Os passarinhos cantando nas árvores,
os rios seguindo seu curso, sem lamentação,
a vida segue seu curso...

E quando perguntam onde encontrá-Lo,
mando colocar a mão no peito, ouvir o coração,
é Deus em constante oração,
é o Deus que habita em mim, que tudo vê,
saudando o Deus que habita em ti.
Deus está sempre presente,
e quando achares que Ele está ausente,
não foi Ele quem se afastou...

é a tua relutância, o teu descrédito…

Deus está apenas à espera do teu chamado,
como quem quer regar uma flor,
pois Deus é mais do que Tudo,


Deus é amor.

(Adap. ACR)

sexta-feira, 20 de março de 2009

Uma pequena história de amizade


- O meu amigo não regressou do campo de batalha, senhor. Peço autorização para o ir procurar!
- Autorização recusada - replicou o Oficial - Não quero que arrisque a vida por um homem que provavelmente morreu.

O soldado, fazendo orelhas moucas à proibição, saiu e uma hora depois regressou mortalmente ferido, transportando o cadáver do seu amigo.

O Oficial estava furioso.

- Já lhe tinha dito que estava morto! agora perdi dois homens! Diga-me, valia a pena sais para trazer um cadáver?
E o soldado moribundo respondeu:
- Claro que sim, senhor! Quando o encontrei ainda estava vivo e pode dizer-me:

"João... tinha a certeza que virias!"

sexta-feira, 13 de março de 2009

Velho

Sei que passas por este Blog...

Sei que ao não deixares nada, com certeza levas alguma coisa!

Esta é para recordares aquele momento, em que numa missa se cantava para gente idosa....

em que as velas se iam acendendo ao som das violas, ao som da voz...

... ao som de "Um velho sentado num jardim"!



Parado e atento à raiva do silêncio,

de um relógio partido e gasto pelo tempo:

estava um velho sentado

no banco de um jardim,

a recordar fragmentos do passado!


Na telefonia tocava uma velha canção,

e um jovem cantor falava da solidão...

- que sabes tu do canto de estar só assim

só e abandonado como o velho do jardim?


O olhar triste e cansado procurando alguém...

e a gente passa ao seu lado a olhá-lo com desdém

Sabes eu acho que todos fogem de ti

pra não ver,

a imagem da solidão

que irão viver

quando forem como tu...

um velho sentado num jardim!


Passam os dias e sentes que és um perdedor.

Já não consegues saber o que tem ou não valor...

O teu caminho parece estar mesmo a chegar ao fim,

pra dares lugar a outro no teu banco do jardim...


o olhar triste e cansado procurando alguém

e a gente passa ao seu lado a olhá-lo com desdém...


Sabes eu acho que todos fogem de ti:

pra não ver

a imagem da solidão que irão viver...

quando forem como tu

um resto de tudo o que existiu!

quando forem como tu...

um velho sentado num jardim!

Mafalda Veiga

segunda-feira, 9 de março de 2009

Definição de saudade....

É emocionante como uma criança pode definir um sentimento que muitos adultos não sabem nem mesmo o que é.
Médico oncologista, já calejado com longos 29 anos de actuação profissional, com toda vivência e experiência que o exercício da medicina nos traz, "posso afirmar que cresci e me modifiquei com os dramas vivenciados pelos meus pacientes.
Dizem que a dor é quem ensina a gemer.
Não conhecemos nossa verdadeira dimensão, até que, apanhados pela adversidade, descobrimos que somos capazes de ir muito mais além..
Descobrimos uma força mágica que nos ergue, nos anima, e não raro, nos descobrimos confortando aqueles que vieram para nos confortar."
Um dia, um anjo passou por mim....
No início da minha vida profissional, senti-me atraído em tratar crianças, entusiasmei-me pela oncologia infantil. Tinha, e tenho ainda hoje, um carinho muito grande por crianças. Elas enternecem-nos e surpreendem-nos como as suas maneiras simples e directas de ver o mundo, sem meias verdades.
Recordo-me com emoção do Hospital do Cancrode Pernambuco, onde dei meus primeiros passos como profissional. Nesse hospital, comecei a frequentar a enfermaria infantil, e a apaixonar-me pela oncopediatria. Mas também comecei a vivenciar os dramas dos meus pacientes, particularmente os das crianças, que via como vítimas inocentes desta terrível doença que é o cancro.
Com o nascimento da minha primeira filha, comecei a recear ao ver o sofrimento destas crianças.
Até o dia em que um anjo passou por mim.
Meu anjo veio na forma de uma criança já com 11 anos, calejada porém por 2 longos anos de tratamentos os mais diversos, hospitais, exames, manipulações, injecções, e todos os desconfortos trazidos pelos programas de quimioterapias e radioterapia. Mas nunca vi meu anjo fraquejar. Já a vi chorar sim, muitas vezes, mas não via fraqueza em seu choro. Via medo em seus olhinhos algumas vezes, e isto é humano! Mas via confiança e determinação. Ela entregava o bracinho à enfermeira, e com uma lágrima nos olhos dizia: faça tia, é preciso para eu ficar boa.
Um dia, cheguei ao hospital de manhã cedinho e encontrei meu anjo sozinho no quarto.
Perguntei pela mãe. E comecei a ouvir uma resposta que ainda hoje não consigo contar sem vivenciar profunda emoção.
Meu anjo respondeu:- Tio, disse-me ela, às vezes minha mãe sai do quarto para chorar escondido nos corredores. Quando eu morrer, acho que ela vai ficar com muita saudade de mim. Mas eu não tenho medo de morrer, tio.. Eu não nasci para esta vida!
Pensando no que a morte representava para crianças, que assistem aos seus heróis morrerem e ressuscitarem nos filmes, indaguei:
- E o que a morte representa para ti, minha querida?
- Olha tio, quando a gente é pequena, às vezes, vamos dormir na cama do nosso pai e no outro dia acordamos no nosso quarto, em nossa própria cama não é? (Lembrei-me das minhas filhas, na época crianças de 6 e 2 anos,costumavam dormir no meu quarto e após dormirem eu procedia exatamente assim.)
- É isso mesmo, e então?
- Vou explicar o que acontece, continuou ela: Quando nós dormimos, nosso pai vem e nos leva nos braços para o nosso quarto, para nossa cama, não é?
- É isso mesmo querida, você é muito esperta!
- Olha tio, eu não nasci para esta vida! Um dia eu vou dormir e o meu Pai vem me buscar. Vou acordar na casa Dele, na minha vida verdadeira!
Boquiaberto, não sabia o que dizer. Chocado com o pensamento deste anjinho, com a maturidade que o sofrimento acelerou, com a visão e grande espiritualidade desta criança, fiquei parado, sem açcão.
- E minha mãe vai ficar com muitas saudades minha, emendou ela.
Emocionado, travado na garganta, contendo uma lágrima e um soluço,perguntei ao meu anjo:
- E o que as saudades significam para ti, minha querida?
- Não sabe não tio? Saudade é o amor que fica!
Hoje, aos 53 anos de idade, desafio qualquer um dar uma definição melhor, mais directa e mais simples para a palavra saudade: é o amor que fica!
Um anjo passou por mim...
Foi enviado para me dizer que existe muito mais entre o Céu e a Terra, do que nos permitimos enxergar. Que geralmente, absolutilizamos tudo que é relativo (carros novos, casas, roupas de marca, jóias) enquanto relativizamos a única coisa absoluta que temos, nossa transcendência.
Meu anjinho já se foi, há longos anos. Mas deixou-me uma grande lição, vindo de alguém que jamais pensei, por ser criança e portadora de uma grave doença, e a quem nunca mais esqueci.
Deixou uma lição que ajudou a melhorar a minha vida, a tentar ser mais humano e carinhoso com meus doentes, a repensar meus valores.
Hoje, quando a noite chega e o céu está limpo, vejo uma linda estrela a quem chamo "meu anjo", que brilha e resplandece no céu. Imagino ser ela, fulgurante em sua nova e eterna casa.
Obrigado anjinho, pela vida bonita que teve, pelas lições que ensinastes, pela ajuda que me deste.
Que bom que existe saudades! O amor que ficou é eterno.
Rogério BrandãoMédico oncologista clinicoRC Recife Boa Vista D4500Cremepe 5758"

quinta-feira, 5 de março de 2009

terça-feira, 3 de março de 2009

Conversa com Deus...

DESFECHO

não tenho mais palavras

Gastei-as a negar-Te...

(só a negar-Te eu pude combater

o terror de Te ver

em toda a parte!)

Fosse qual fosse o chão da caminhada

Era certa ao meu lado

A Divina presença impertinente

Do Teu vulto calado e paciente...

E lutei, como luta um solitário

Quando alguém lhe perturba a solidão

Fechado num ouriço de recusas

Soltei a voz, arma que Tu não usas

Sempre silencioso na agressão.

Mas o tempo moeu a sua mó

O joio amargo do que Te dizia

Agora somos dois obstinados

que apenas vão a par na teimosia!

Miguel Torga in, Câmara Ardente

Kyrie




Em nome dos que choram,

dos que sofrem,

dos que acendem na noite o facho da revolta

E que de noite morrem,

com a esperança nos olhos e arames em volta.

Em nome dos que sonham com palavras

de amor e paz que nunca foram ditas,

Em nome dos que rezam em silêncio

E estendem em silêncio as duas mãos aflitas

Em nome dos que pedem segredo

a esmola que os humilha e os destrói

E devoram as lágrimas e o medo

quando a fome lhes doi.

Em nome dos que dormem ao relento

numa cama de chuva com lençois de vento

o sono da miséria, terrível e profundo.

Em nome dos teus filhos que esqueceste

Filho de Deus que nunca mais nasceste:


- VOLTA OUTRA VEZ AO MUNDO!




José Carlos Ary dos Santos in, Liturgia do Sangue


segunda-feira, 2 de março de 2009

Meditação do Duque de Gândhia à morte da Rainha Santa Isabel


Reza a história que Duque de Gândhia nutria grande amor pela Rainha Santa Isabel de Portugal.

Após a sua morte, o Duque aguardou para ver partir a sua amada mas, naquele tempo, como os transportes eram escassos e as urnas vinham de cavalo, o corpo levou meses a chegar.
Já perto da sua amada, o Duque de Gândhia rezou este poema e jurou nunca mais falar.
E, desde então, nunca mais ninguém ouviu a sua voz até ao dia de sua morte.


Para mim... o poema mais lindo da vida!




"Nunca mais

A tua face será pura limpa e viva

Nem o teu andar como onda fugitiva

Se poderá nos passos do tempo tecer.


E nunca mais darei ao tempo a minha vida.


Nunca mais servirei senhor que possa morrer.


A luz da tarde mostra-me os destroços

Do teu ser.

Em breve a podridão

Beberá os teus olhos e os teus ossos

Tomando a tua mão na sua mão.


Nunca mais amarei quem não possa viver

Sempre,

Porque eu amei como se fossem eternos

A glória, a luz e o brilho do teu ser,

Amei-te em verdade e transparência

E nem sequer me resta a tua ausência,

És um rosto de nojo e negação

E eu fecho os olhos para não te ver.


Nunca mais servirei senhor que não possa viver sempre.

Nunca mais amarei senhor que possa morrer.


Sophia de Mello Breyner Andresen